domingo, 6 de fevereiro de 2011

Pai, nada substitui, dinheiro nenhum compra!


Dizem que pai, qualquer um é mas mãe só tem uma. Errado! O parâmetro é igual para os dois. Uma vez que conviveu com eles, nunca mais alguém os substituirá. Fiz um poema para o meu pai e nunca entreguei. É subjetivo como a maioria das poesias. Um desabafo. 

Na psicologia costuma-se dizer que é mais fácil falar de si e de outros inventando um pseudônimo ou um outrem (outro alguém). Eu usei esse método por longa data para combater a abstinência em mim. Vou compartilhar esse sentimento que eu não fui a primeira a sentir e com infortúnio tenho que dizer que não serei a última. 




Poesia: Outrem 

Quero falar, mas não tenho para quem
Vou escrever... Ah de ler outrem.


O princípio era normal, banal.
Pai, mãe e filho.
Acordavam cedo, sempre com pressa.
Ás vezes não dava tempo de tomar café.
Mas estarem juntos. A felicidade era essa.
Minha preocupação...
Será que ontem desliguei a televisão?
Por isso, a palavra de Deus é clara quando diz:
“É preciso ser criança para entrar no reino do céu e passar a eternidade feliz”


Crescendo, os problemas crescem.
Ou os mesmos problemas envelhecem.
Quando um indivíduo traz uma bagagem da infância, resta saber qual foi o primeiro item adicionado.
Eu sei qual foi o meu item mais pesado.
Há segredos que se perdem no tempo.
Outros crescem dentro da gente, calado.
Mas eu não vou culpar outrem.
Porque não há culpado.
Afinal isso não é importante. Porque não se pode mudar o passado.


Quando nos tornamos adultos somos um trilho planado.
Onde a nossa mente é um trem desgovernado. Pensamentos acelerados.
Apaga-se a luz e o trem perde o freio.
A mente, quando se está sozinho, entra em devaneio.
Aprendi a sentir:
Sentir falta; quando o meu pai não estava.
Sentir saudade; quando meu pai não chegava.
Sentir tristeza; quando no dia dos pais eu fazia o trabalhinho e não entregava.
Sentir rejeição; quando o meu pai, a mim renunciava.
Sentir inocência; quando meu pai dissimulava.
Sentir amor; mesmo quando meu pai me ignorava.


Eu pensava que se meu pai fosse um pai daqueles embriagados, que chegam dando brados, aí seria mais fácil. Todo filho quer se livrar de um pai assim.
Mas o meu pai não é ruim. Nunca bebeu e nem nunca fumou, nem perto e nem longe de mim.
Eu nunca fui um mau filho. Notas boas, sem palavrões. Nunca cheguei tarde da noite, para ele ficar sem dormir. 
Mesmo assim ele não me quis.


Por muitas vezes na infância tentei não querê-lo também.
Mas há um elo de sangue entre nós, que eu não sei explicar para outrem.
Se fui eu que não fui atrás dele, ou se ele não veio até mim, não sei quem.


Quando cresci, fui buscar um pouco de um pai em alguém.
Obvio que eu não encontrei.
Eu só quero ser o que ele não foi pra mim, para outrem.
A probabilidade de eu conseguir um bom pai não é muito alta.
Mas o assunto que está em pauta é se eu vou conseguir superar a dor desse alguém.


Todos os meus aniversários ficaram sem receber uma ligação, mas tudo bem. Meu pai estava ocupado com o aniversário de outrem que talvez se realizasse o ano que vem.
Por isso ele nunca me dava parabéns.
Mas eu busquei em outros olhares encontrá-lo. Mas um olhar como o dele ninguém tem.
Eu me lembro cada noite da minha vida, do último tchau que ele me deu.


Na mente do meu pai, acho que eu sou um compromisso que ele esqueceu. Contraditório, se visto ao pé da letra. Mas é autógeno o indivíduo que faz acepção entre os filhos como se um, fosse de proveta.


Eu sei que quando eu procurar, ele vai estar lá
Mas ele não está no mesmo lugar.
O lugar que ele está não é o lugar dele.
O lugar dele é no contexto da minha vida.
Essa vida que ele mesmo permitiu ser concebida.


Um dia, um de nós se vai
Tanto faz, filho ou pai.
Mas deixaremos para traz
Aquilo que Deus nos deixou desfrutar demais.

Aquilo que não se paga e nem apaga.
Amor de filho e pai.


Mas se tiver oportunidade...
Eu sei que tem

Vou dar todo o amor que eu mereci, para um pequeno outrem.




Poetisa Vi Castilhiano


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